FALA AÊ! Crônicas do Cotidiano Carioca: A Celebridade
FALA AÊ! (Crônicas do Cotidiano Carioca)
A
CELEBRIDADE
Não se falava em outra coisa por todos os
cantos da Associação da Melhor Idade A.M.I. JUVENTUDENSE. Desde a sua fundação, o clube
nunca havia passado por um agito tão grande. A eleição seria concorrida pela primeira
vez em sua história.
Seu Eteovaldo, presidente da associação pelos
últimos dez anos, fingia que nem era com ele, enquanto jogava dominó com Seu Arlineu
na mesinha de cimento do jardim próximo à lanchonete do clube.
— Ele vai pegar pesado, Eteovaldo. Tá
investindo no “marking” para conseguir os voto.
— Não tem chance. Vou ganhar fácil, como
sempre. A turma não é boba.
Ele queria passar confiança, mas estava se borrando todo. Ganhara as eleições anteriores por aclamação, como candidato
único. Ter um concorrente era uma novidade que fazia tremer as suas pernas mais do que a doença, que já as atacava normalmente.
— Ele vai trazer uma celebridade para se apresentar
no dia do Bingo! Imagina Eteovaldo? Um artista famoso, se apresentando na Juventudense!
Vai ser que nem a tar de Las Vega dos gringo! Tá bancando! Vai ganhar os voto tudinho!
— Bah, não enche o meu saco! Você está gagá,
Arlineu.
Eteovaldo largou a partida de dominó pelo
meio e se levantou da mesa, partindo irritado e resmungando pelo jardim. Uma
cena que seria muito mais dramática e impressionante se não fosse pelos quase cinco minutos que
levou para se levantar.
Atanagildo ia levar uma celebridade para se apresentar no clube. Seria a primeira vez que aconteceria algo assim na história da Juventudense. Como poderia enfrentar isso?
Passou a semana se
escondendo pelos cantos do clube, quando deveria estar fazendo campanha. Estava
envergonhado. Até D. Emerentina, aquele pitéuzinho na flor dos 65,
estava toda agitada por causa do tal show. Havia tentado impressionar a moça desde que ela se associou ao clube,
falhando miseravelmente. Desprezo total. E agora ela se desmanchava em sorrisos lá pros lados do Atanagildo na lanchonete. Mal podia aguardar chegar o dia do Bingo.
Os boatos pegavam fogo. Alguns diziam que seria o Amado Batista, outros falavam em Moacyr Franco; e vinham ganhando força os rumores de que poderia ser até mesmo o Roberto Carlos. Já estavam chamando o Bingo de “O Cruzeiro Juventudense”.
Eteovaldo estava irremediavelmente perdido.
Os boatos pegavam fogo. Alguns diziam que seria o Amado Batista, outros falavam em Moacyr Franco; e vinham ganhando força os rumores de que poderia ser até mesmo o Roberto Carlos. Já estavam chamando o Bingo de “O Cruzeiro Juventudense”.
Eteovaldo estava irremediavelmente perdido.
***
Atanagildo cumprimentava todo mundo na porta de entrada do salão, com o sorrisão de poucos dentes que ele ostentava orgulhosamente, mostrando a todos que não usava dentadura. Metido a besta. Estava se sentindo o dono do salão do Bingo.
Aquela noite era toda sua. Deixou a boataria comer solta até às oito horas da noite, quando interrompeu a jogatina para informar que era hora de começar o show.
As luzes se apagaram, e um único refletor iluminou o globo de espelhos giratório no teto. Foi como se uma chuva de cometas se espalhasse pelos quatro cantos do salão.
Teve velho aplaudindo e teve velho ficando tonto, quase desmaiando, graças ao espetáculo de luzes estreladas rodando sem parar. Eteovaldo quase enfartou de inveja. Foi quando a cortina se abriu e ela apareceu.
Seu cabelo amarelado com grossas raízes negras
no centro ia quase até a cintura, alisado e esticado com uma chapinha poderosa.
As botas prateadas iam até acima dos joelhos e possuíam saltos imensos, como se
fossem verdadeiras pernas-de-pau. D. Emerentina gritou histérica que era a Wanderléa. Entre a camiseta amarrada na linha da cintura
e o fim das longas botas, um pequeniníssimo biquíni fio dental deixava à mostra
a bunda mais magricela e feia que Eteovaldo já tinha visto na vida.
O sistema de som finalmente anunciou: Com vocês, “Pablo Villar!”
O sistema de som finalmente anunciou: Com vocês, “Pablo Villar!”
Demorou uma fração de minuto entre a hora em que o cover de Pablo Vittar se virou no palco e o momento
em que os velhinhos conseguiram entender o que acontecia.
Primeiro perceberam a bunda magrela, depois os ombros largos e fortes. A voz desafinada com sotaque de nordestino eles ouviram mais ou menos ao mesmo tempo em que notaram o “pacotão” que se avolumava na parte dianteira do biquíni...
***
Eteovaldo foi eleito mais uma vez por
aclamação.
Dizem que Atanagildo foi visto morando com o
cover em Copacabana. Alguns dizem que é seu sobrinho neto, outros mais maldosos afirmam que é seu garotão. E até hoje não conseguiu se recuperar da surra de bengaladas
e do banho de refresco de groselha que levou no salão de baile da A.M.I. Juventudense.
Parabéns!
ResponderEliminarMuito obrigado! 🙂
EliminarAmei, parabéns.
ResponderEliminarMuito obrigado! 🙂
EliminarQue figuração, realmente muita confusão. Texto divertido e com muita criatividade. Parabéns!!
ResponderEliminarMuito divertido! Parabéns!!
ResponderEliminarMuito obrigado! 🙂
EliminarA gente fica imaginando as cenas e se acaba de tanto rir. Sensacional!
ResponderEliminarMuito obrigado! 🙂
EliminarMuito bom poder ler uma crônica de humor leve e divertido, no estilo dos melhores cronistas dos antigos jornais de domingo que lia na minha infância. Adorava, não perdia uma. Parabéns ao autor!
ResponderEliminarFico imaginando a frustração das velhinhas por nao ser o Roberto, e do Atanagildo por nao entender aonde errou ! rssss Muito bom . Parabens !!!!
ResponderEliminarMuito bom !! E os nomes dos personagens ? Já estou anotando para oferecer como opção para os meus futuros netos ! Rsrsrs
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarMuito Obrigado!
EliminarLi com o entusiasmo dos velhotes. Parabéns! 😀
ResponderEliminarMuito obrigado!
EliminarParabens
ResponderEliminarAmei demais! Super parabéns! Já estou aguardando o próximo
ResponderEliminarMuito obrigado! Dia 12... A celeuma está marcada na porta do buteco do Seu Manéu... Não perca! 🙂
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