CINEMA EM TELA: O VELHO CONTINENTE NO NOVO CENÁRIO DO SUSPENSE

CINEMA EM TELA:

O VELHO CONTINENTE NO NOVO CENÁRIO DO SUSPENSE

Marcus Hemerly

Iniciamos um espaço para uma breve exposição de tópicos acerca da sétima arte, desde resenhas, dissertações sobre períodos, influências e tendências do cinema, discutindo produções clássicas ou contemporâneas, não raro, encontradas nas prateleiras da coleção deste “escrevinhador” que ora dedilha o teclado. Como proposta de inauguração da coluna, tratemos sobre gênero imortal por excelência, que encanta e seduz desde a tenra idade até a mais madura e cerebral percepção sobre uma trama bem arquitetada: o gênero policial e de suspense. 

Dentre os grandes escritores de destaque, uma verve criativa oriunda da Europa enriquece o cenário do romance policial contemporâneo, em boa parte dominado pelo nicho norte-americano. É cediço que a Europa já havia feito história com os populares detetives Hercule Poirot de Agatha Christie, Commissaire Maigret de Simenon e o lendário Sherlock Holmes de Sir Arthur Conan Doyle. Nos últimos anos, no entanto, nomes como Arnaldur Indridason, Mark Billinghan, Ann Cleeves, Jean Christophe Grangé e Jo Nesbø, vêm emergindo no panorama internacional de forma pronunciada. 

Ainda que detetives marcantes como o frio Pierre Niémans de Grangé, ou o cerebral e problemático tira de elite Harry Hole de Nesbø e suas encarnações no cinema tenham injetado uma constante renovação no universo do whodunnit e do film noir, é detectável uma tendência à criação de roteiros realistas ancorados em personagens do cotidiano. Nas plataformas de streaming, deparamo-nos como uma miríade de opções, que num primeiro momento, poderiam causar ressalvas ao espectador habituado aos blockbusters americanos – nada contra eles, evidentemente – mas nesse enveredamento às opções pouco usuais, não é um quadro de decepção o que se vislumbra.

Tanto no panorama literário ou cinematográfico, é imperioso reconhecer, em certo grau, dada a influência das produções europeias, o deslocamento do foco principal na trama para a figura do personagem em uma forma especial de relevo. Não se mostra como vetor recorrente, tal como no passado, o detetive ou mocinho imune às dúvidas ou medos, agora transpostos à tela como peças de dramas humanos e fragilidades que enriquecem a psique dissecada na história. Observa-se uma harmônica junção entre o enredo bem concebido e o personagem atrativo e empático, tendência que já irradiava feições na última década em folhetins americanos, mas que se populariza em produções interessantíssimas como o curioso seriado belga “Mandamentos de Um Serial Killer”, o britânico “River”, ou o recente filme “Morte às Seis da Tarde” de origem polonesa.

Os heróis inabaláveis, como aqueles criados por Dashiell Hammett, Raymond Chandler e outros expoentes da literatura policial ortodoxa, que venciam qualquer situação crítica com um olhar impassível e sedutor, uma tragada no cigarro e uma dose de ironia, foram superados. Protagonistas com problemas psicológicos e fraquezas refletidas em sua meia-idade ou limitações vêm robustecendo essa nova roupagem da investigação na ficção. 



A figura do policial, muitas vezes, é substituída pelos casos de identidade trocada ou o homem comum exposto a situações inusitadas ou de extremos, nas quais é forçado não apenas a confrontar seus algozes, como a si mesmo, o que imprime uma aura hitchcockiana quase palpável. Tal é o caso dos excelentes filmes espanhóis “A casa”, “El Cuerpo”, “Secuestro”, “Quando os Anjos Dormem”, “Quem com Ferro Fere” e “Um contratempo”, cujo suspense contínuo – ao ponto de gravitar em torno do desconforto – ou desfechos surpreendentes, são uma mostra de ótimo e inteligente entretenimento. Aliás, as terras hispânicas deram origem à popular série “La casa de Papel”, protagonizada por Álvaro Morte, que também atua no controverso “Durante a Tormenta”.



Decerto, o cinema é uma forma de comunicação universal, assim como todas as formas de arte, dialogando com o público quando o atinge em suas vivências e influenciam nos hábitos ou abordam, de modo perspicaz, as crises existenciais humanas. Nesse viés, da próxima vez em que for escolher um filme, dê uma chance às produções oriundas do velho continente, caso não seja apreciador assíduo, ou mesmo, se mostraria pertinente uma mirada ao cinema asiático. Uma safra de bons filmes coreanos se populariza nos catálogos de streaming e sua qualidade foi afirmada na última edição do Oscar, na qual a película “Parasita”, foi vencedora de quatro estatuetas, incluindo a de melhor filme.


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