Universos em poucas palavras.


Uma carreira literária nem sempre é planejada, e em muitos casos, acontece por acaso. Assim como eu, muitos outros autores que possuíam uma ideia fantástica para um livro, encontraram nos contos a saída perfeita para suas histórias.

O conto é o ponto ideal para aqueles que querem iniciar no mundo literário, por ser um meio de exercitar a escrita e criatividade. Para aqueles que já trilham o caminho da escrita, as narrativas curtas são formas de se reinventar e até expandir suas histórias, encarando desafios que não se encontram ao escrever extensos romances.


Mas quais são estes desafios? Respondo com o título deste texto: um “Universo em poucas palavras”. Um livro possui “páginas” suficientes para desenvolver inúmeras tramas, informações e personagens. O conto condensa um universo inteiro em poucas páginas. Nos desafia a elaborar, em um número limitadíssimo de caracteres, uma narrativa que faça sentido, que apresente uma situação, que prenda o leitor utilizando-se de poucos personagens, introduzindo conceitos e conflitos, cenas marcantes, frases incisivas... e tudo isso mantendo a estrutura básica narrativa: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Uma vez perguntado sobre os motivos pelos quais escrevia contos, Neil Gaiman disse: “Contos são pequenas janelas para outros mundos e outras mentes e outros sonhos. São jornadas que você pode fazer para o outro lado do universo e ainda voltar a tempo para o jantar. ”

O conto, em minha opinião, é um grito. Um rompante emocional, uma ideia que surge inesperadamente e tem um significado enraizado em nossa mente, em nosso peito, algo que fervilha até ser exibido ao mundo. Escrever contos me ajuda a conhecer aquele que está oculto dentro de mim.

A ideia de publicar narrativas curtas não é nova, e consagrados autores começaram publicando seus contos em revistas pulp americanas. Em exemplo, Arthur C. Clarke escreveu o conto O Sentinela, que deu origem ao roteiro do genial 2001 – Uma Odisseia no espaço; Isaac Asimov tem incontáveis contos que, em conjunto, ditaram as diretrizes da ficção científica; H. P. Lovecraft em seus contos, nos mostrou conceitos do terror que nunca haviam sido imaginados e nos presenteou, em suas páginas, com o livro Necronomicon e a divindade cósmica Cthutulhu. Edgar Allan Poe, precursor da ficção policial, se manifestou dizendo que “um conto deve ter um único sentimento e todas as frases devem ser construídas basedas nele”.

Os últimos anos nos trouxeram uma geração acostumada com rapidez e praticidade, munida de uma tecnologia que tenta de todas as maneiras aplacar sua ansiedade, transformando o mundo de tal forma que o futuro se tornou, salvo para a astrologia, algo imprevisível. Os contos, apesar de não serem nenhuma novidade, como dito anteriormente, conseguiram achar seu lugar no caos por conta de sua brevidade, suas ideias rápidas e podem ser acessados com qualquer dispositivo de leitura digital, como qualquer outra obra.

Em meio a todas estas mudanças, as editoras encontraram uma saída para sobreviver ao crítico cenário literário nacional. As antologias.

As antologias temáticas reúnem contos de diversos autores, envolvendo todos gêneros literários. Estes contos desenvolvem um único tema, e nos presenteiam com histórias inesperadas e marcantes. Autores independentes encontram neste formato uma maneira de exporem seus trabalhos aos leitores brasileiros, visto que as grandes editoras possuem seus portões fechados para quem está iniciando.

Esses novos talentos que estão surgindo, trazem consigo uma carga ideológica e cultural que antes dependíamos de nomes já estabelecidos no cenário para servirem de porta-voz, o que dificilmente acontece. Quando nos deparamos com antologias como Resilientes: Um manifesto contra a LGBTfobia e Cicatrizes na alma, que trata sobre a excruciante vivência da depressão, encontramos novas armas de divulgação, orientação, autoconhecimento e até mesmo, salvação.

Portanto, divulgue antologias de contos, leia os novos autores.

Crie universos. Conte um conto.



Comentários

  1. Sem dúvida. Um romance é uma jornada, desde a primeira dor de cabeça até o desejado dia de alta, atravessando o inferno do CTI. Já o conto é um espirro. Forte, repentino, incontrolável... E muitas vezes libertador! 🙂 Parabéns pelo texto!

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