A biblioteca dos livros não escritos, por Humberto Martins.

A Biblioteca dos livros não escritos 

Humberto Martins 

O mundo está cheio de livros não escritos. Alguns escritos, mas não publicados. No reino dos sonhos, governado por nosso querido Morpheus1, há uma biblioteca inteira de livros sonhados, mas que nunca foram materializados. Eu acho indescritível essa passagem. 
 Toda criança é uma excelente criadora de histórias, por natureza. Vivem a sonhar em seus próprios universos perdidos e esquecidos no tempo. Quantos livros já não foram sonhados por nossos filhos e por nós mesmo, quando mais novos? 
A biblioteca dos Sonhar, nome do reino de Morpheus, contém bilhões de livros não escritos, guardados carinhosamente por Lucien, o bibliotecário. Nenhum livro pode sair de lá, pois caso saia, a ira de Oneiros (ou Morpheus, ou Sandman, dentre outros) será invocada. E nós não queremos isso. Quem gostaria de ter a passagem pros reinos dos sonhos bloqueada? Um reino onde tudo pode acontecer o céu não é o limite, e sim apenas mais um degrau? Eu não. 
São em nossos sonhos que buscamos nossas maiores inspirações, mas é incrível como as sufocamos em nosso dia a dia. Um acordar mais tarde, um deixar de lado, um passar pra outro dia, e aos poucos, nos vemos esquecidos daquilo que havia sido proposto na virada do ano, e ano após ano, corremos o risco de perder até mesmo nossa essência.  
Um suspiro sufocado que se tornou um grito abafado. É assim que vejo muitos adultos hoje em dia que, sem notarem, apagam os brilhos dos olhos das crianças que eles mesmo geraram. Que menino nunca se imaginou salvando uma princesa e vencendo os bandidos? Que menina nunca se imaginou sendo salva? Discussões de gêneros à parte, a serem discutidas futuramente, somos reflexos de nossa criação.  
Se Deus nos criou em sua imagem e semelhança, possuímos também o sopro da vida. E não é isso que uma criança faz quando o chama para comer seu bolinho de terra? Ó adulto, detentor de toda a verdade para ele, que frágil e inocente, não percebe que você está mais perdido do que cego em tiroteio. A criança cria por natureza. Nós também. Ou assim deveríamos fazer. 
Quantas criações morreram na praia? Quantas ideias incríveis não foram abandonadas? Quantos best-sellers incríveis, frutos de faíscas da mente e do divino, não foram deixados de lado pelo simples fato de você se esquecer de quem você é? Pelo simples fato de você se perder diante das adversidades da vida. 
A própria J. K. Rowlling não teve Harry Potter recusado várias e várias vezes, simplesmente porque as editoras não o viam como “invendível”? Através do não ela alcançou o sim. 
Vamos, levante-se de sua própria inércia. Reencontre a coragem em seu peito e se deixe dar voz à criança que habita em você. Sonhe mais uma vez, só que agora construa pontes, mesmo que madeira por madeira, para trazer esse sonho à realidade. Veja, construa, escreva! Crie o mundo que há em você! 
Não se deixe abandonar porque outros disseram e, principalmente, não deixe que seu livro vá parar nas mãos de Sandman, estocado para sempre na biblioteca do sonhar. Todo homem é um menino, todo adulto é uma criança. Deixa que apenas as areias do tempo corram, mas não sua vitalidade. Lembre-se novamente daquele foguete que construiu e conte sua história até a lua, ou daquele Power Ranger que já foi. Mas, principalmente, conte a história do adulto que você se tornou, sem se esquecer, jamais, da criança que foi, e dos sorrisos que deu.






Comentários

  1. Texto perfeito, que nos faz refletir sobre o que perdemos de nós mesmos, pela caminhada da vida. Vamos acordar e viver nossos sonhos!

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  2. A Emcontos está sensacional ! Tamanha diversidade nos textos, desde casos sombrios como o primeiro até reflexões cada vez mais profundas!
    Parabéns ao autor também, sensacional! Gostei muito.

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