Pecados e Penitências

Pecados e Penitências


Marco Antônio Baptista

Perdoe-me, Senhor, porque eu pequei.

Permita-me esclarecer minhas motivações para que talvez consiga aliviar a sentença que me aguarda.

Por mais que consideremos aqueles seres mundanos, os humanos, como meros fantoches em meio à complexidade do universo, eles têm trazido consigo grandes avanços para o seu planeta, mesmo que não sejam tão engenhosos quanto nós.

Particularmente eu vi grande potencial naquelas criaturas, tanto que quando ousavam evocar nossos poderes, eu prontamente ia auxiliá-los com nossos ensinamentos.

Preferi tentar moldar suas mentes basais de forma que preparassem o planeta para nossa chegada, e finalmente teríamos um lar digno para evoluirmos como a espécie nobre que somos.

Porém quanto mais eu ensinava, mais eles queriam de mim.

Primeiro, evocavam cânticos que não me representavam; chegaram a fazer sacrifícios de seus semelhantes, e acabaram gerando guerras em nome de deuses que nem se importavam na existência daquele planetinha azul.

Pensei que eles cessariam sua busca incansável pelo conhecimento depois de tantas tentativas sem resultado, que com o passar das eras se transformaram em um desejo deveras inconsequente e deturpado pelo poder... mas estava enganado.

Poder virou fruto da ganância, e virou a maior sina da raça humana.

Pode existir tal criatura desalmada que destrói seu próprio lar em benefício próprio, sendo que não estará vivo para consumir os louros de sua chacina?

Percebo agora que foi errado me intrometer em assuntos mundanos, mas não me arrependo de nada.

Posso ter renegado nossas leis, mas recuso-me a negar que foi uma das experiências mais gratificantes que tive em minha existência.

Podemos nós, demônios, privar nossos poderes para tão somente nossos próprios desejos enfadonhos?

Prefiro dividir com aqueles que me trarão algum retorno, nem que sejam utilizados como meras ferramentas para minhas maquinações. Mas jamais cometerei o erro que fiz com os humanos.

Por mais que tenha feito escolhas duvidosas, sei que nossa raça ainda se reerguerá outra vez com a força total que merecemos, e sem criaturas desprezíveis que se acham superiores por terem recebido nossos poderes como benção e agora se acharem no direito de renegarem nosso nome.

Por fim, aguardo agora minha sentença, mas espero que saibam que o mal pode ser facilmente atribuído a nós demônios, mas o verdadeiro mal permanece vivo no coração dos homens.

Podem não querer aceitar, mas eu fui um marco na evolução humana.




Comentários

  1. Olha, interessante algumas colocações. Mas, o fundo negativo/pessimista/tenebroso não né agradou muito. Não deixa de ter razão em determinados pontos, mas... Opinião pessoal, claro. Boa sorte para nós! Abraço.

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